MINUTO DE ECONOMIA

INFLAÇÃO VERDE: COMO CONCILIAR O TEMPO DA NATUREZA COM O TEMPO DA ECONOMIA?
O desafio do processo de descarbonização da economia reside na arte de conciliar o tempo da economia com o tempo da Natureza. A transição para a economia verde pode trazer custos e estimular atividades com impactos elevados sobre o meio ambiente.
O índice oficial de inflação de 2021 anunciado ontem foi de 10,06% e, os principais responsáveis pelo aumento dos preços foram os combustíveis. A maior alta considerando os itens do IPCA foi do etanol de 62,23%.
Os combustíveis subiram 49,02% nos 12 meses de 2021. A propósito a Petrobras anunciou um novo aumento. O preço da gasolina passou de R$3,09 para R$ 3,24 nas refinarias enquanto o do diesel passou de R$ 3,34 para R$ 3,61.
Outro item que contribuiu para uma inflação de dois dígitos foi a energia elétrica, que ficou 21,21% mais cara. A alta da energia é consequência de eventos climáticos extremos. A seca levou o país a adotar uma bandeira de escassez hídrica.
Além dos eventos climáticos, está em curso a discussão sobre uma transição energética de uma matriz dependente de combustíveis fósseis para uma matriz de carbono zero. Este movimento de transição coloca desafios que precisam ser enfrentados, mas que podem gerar custos de transição. Dentre as dificuldades previstas está a chamada inflação verde.
Isso pode ocorrer porque, nas transições energéticas anteriores, como o uso do fogo, do carvão e da gasolina houve uma queda significativa nos custos, o que acelerou e contribuiu para a transição.
No caso da transição energética atual, mesmo que gradual, haverá forte mudança de preços relativos, o que pode gerar um aumento dos custos em um primeiro momento. Este processo será ainda mais desafiador em economias com inércia inflacionária, como a brasileira. ´
Uma vantagem do país nesse sentido é possuir uma matriz energética relativamente limpa, com 28% de hidroelétrica e 53,8% de petróleo, carvão e gás. A matriz energética chinesa, por exemplo, é composta por 84,2% de carvão, petróleo e gás; no mundo a dependência de carvão, petróleo e gás é de 84,2%.
A transição deverá fazer aumentar a produção e exploração de minerais e outros insumos. Alguns segmentos com externalidades negativas continuam sendo fundamentais, como a mineração.
Outro temor envolve a transição em si: como conciliar os investimentos em formas limpas sem deixar de investir na extração de materiais fósseis. Por exemplo, caso os investimentos na extração de petróleo minguem, a tendência é que o preço dispare mesmo em uma economia que ainda é dependente deste insumo.
Por outro lado, permanecer com uma matriz energética altamente poluente também terá altos custos. Segundo o Swiss Re Institute, sem nenhum tipo de mitigação das mudanças climáticas até 2050 terá um impacto de 3,2ºC na temperatura e de 18% no PIB, se forem cumpridas as metas do acordo de Paris, o impacto sobre será de 2ºC e 4% no PIB.
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